Autores: Roberto Malo; F. Javier Mateos; Marjorie Pourchet
O jovem herdou um imenso reino, com ducados, condados, territórios ultramarinos…
— E um belo palácio! – dizia o povo.
Herdou também uma dívida de cem mil moedas de ouro para com um perigoso cavaleiro da fronteira: o cavaleiro Negro.
O seu pai, o velho rei, havia sido um mãos-rotas
(e um sem-vergonha, sejamos sinceros!)
— Estou furioso! – protestou o cavaleiro Negro diante do novo rei.
O teu pai devia-me cem mil moedas de ouro.
Por isso, ou pagas ou levas! – ameaçou levantando a espada.
A história de um rei em dificuldades não é nova, nem a de um monarca que decide recorrer a um habilidoso espadachim ou valente cavaleiro para acabar com os seus problemas, tal como acontece no conto de Roberto Malo e Francisco Javier Mateos. Ao longo do álbum, há ainda lugar para ogros, duendes e magia.
Contudo, esta história pouco tem de conto tradicional: nem o é no tom, nem na linguagem do narrador e das personagens ? repleta de expressões coloquiais e atuais ? nem sequer no desenvolvimento da trama. Nesta história rapidamente descobrimos que o papel do herói não é representado pelo rei, nem pelo malvado cavaleiro Negro, nem sequer por Dick Van Dyke e a sua prodigiosa espada.
Tal como adianta o título, a valente heroína é a mãe de Dick Van Dyke. Apesar de a sua personagem corresponder ao estereótipo mais clássico: superprotetora, maternal, conselheira… também contribui para o tom irreverente do conto.
Assim, o seu comportamento nada tem a ver com a atitude passiva com que muitas personagens femininas foram caracterizadas ? quer mães, esposas ou prometidas ? nos inúmeros contos de duelos entre cavaleiros.
À progenitora de Dick Van Dyke não lhe falta iniciativa, valentia e nobreza de caráter; valores que definem qualquer herói clássico, apesar de se poderem atribuir a muitas mães, sejam estas da época dos cavaleiros e reinados, ou da era dos jogos de vídeo e das redes sociais.
Nos contos tradicionais, a força que habitualmente move o herói a atuar assim tem a sua origem no amor da amada. No de Roberto Malo e Francisco Javier Mateos também é este sentimento que alimenta a coragem da protagonista. No entanto, trata-se do amor que uma mãe sente por um filho.
O tom descontraído da história conta com a cumplicidade da reconhecida ilustradora francesa Marjorie Pourchet que, apesar de jovem, tem um amplo percurso na literatura infantil, onde há pouco se atreveu a dar o salto como autora.
Trata-se de um trabalho que mistura diferentes técnicas, acrílico, caneta… às quais juntou colagens com diferentes tipos de papel e decorações, criadas através de técnicas de impressão (monotipos, etc…)
A ilustradora imaginou os quadros como se fossem a decoração de um teatro ou de uma opereta, onde, às vezes, podem coabitar várias pequenas cenas numa só imagem.
Deste modo, procura convidar o leitor a imaginar o caráter “tresloucado” das personagens através de pormenores “absurdos ou anacrónicos” inseridos nas roupas, nos acessórios ou nos arredores.
Nos seus trabalhos estabeleceu vínculos e idas e voltas entre as páginas, com a ajuda de certos elementos evocados no texto. A intenção era dotar as imagens do contraste ? que existe no texto ? entre o conto maravilhoso tradicional e os acontecimentos “divertidos e desfasados” que têm lugar em A mãe do herói.
Deste modo, Pourchet dá vida a umas personagens de aparência grotesca, desproporcionadas nas medidas (corpo pequeno e cabeça grande). Para recriar todo o conto faz uso de uma paleta viva de cores (amarelos, vermelhos, pretos) que reforçam o tom descarado, engraçado e atrevido da história. Tal como Roberto Malo e Francisco Javier Mateos, esta é a primeira colaboração de Marjorie Pourchet com a OQO editora para, tal como revela ao princípio a dedicatória da história, prestarem juntos uma divertida homenagem a todas as mães.