Autor: Marc Augé
Idioma: Português
Capa mole
«A primeira pedalada é a aquisição de uma nova autonomia, é a bela escapada, a liberdade palpável, o movimento na ponta dos pés, quando a máquina responde ao desejo do corpo e quase o antecipa. Em poucos segundos, o horizonte limitado abre-se, a paisagem move-se. Estou noutro lugar. Sou um outro e, no entanto, sou eu mesmo como nunca antes tinha sido; sou aquilo que descubro.»
Este elogio da bicicleta de um dos mais destacados antropólogos mundiais passa por três momentos: o mito, a epopeia e a utopia. A bicicleta tem uma dimensão mítica que é, ao mesmo tempo, individual e coletiva. Hoje, o mito sofreu um revés. Mas a bicicleta regressa através das políticas urbanas, e a sua presença é hoje objeto de um renovado entusiasmo.
Podemos imaginar os grandes traços da cidade utópica de amanhã, em que os transportes coletivos e a bicicleta seriam os únicos meios de deslocação na cidade e em que a paz, a igualdade e o ar fresco e limpo seriam a regra no mundo depois da queda dos magnatas do petróleo. Podemos imaginar um mundo em que as exigências dos ciclistas fizessem vergar os poderes políticos.
Mas tudo isto não passa de um sonho. A bicicleta ensina-nos acima de tudo a conciliar-nos com o tempo e com o espaço. E leva-nos a descobrir o princípio de realidade num mundo invadido pela ficção e pelas imagens.
Da primeira pedalada de uma criança de 5 anos aos feitos heróicos dos ciclistas da Volta à França, passando pelo urbanismo e pelas políticas ambientais, este breve ensaio de Marc Augé reflete sobre a maior invenção da humanidade para chegar à conclusão de que «o ciclismo é um humanismo».