Autores: Raquel Saiz; Rashin Kheiriyeh
Este é um livro sobre gatos condenados a calçar-se, viúvas amantes de moda, amantes dos animais, avalanchas de ratos, flautistas retirados, pedreiros ao serviço, estranhos aparelhos que sustêm a Lua, bruxas num dia mau, revoltas populares, reis, rainhas, princesas… que conta a incrível (mas verdadeira) história de como os sapos acabaram por mandar no mundo.
Raquel Saiz, autora de O dia em que a mamã ficou com cara de chaleira, é uma colaboradora habitual da OQO editora. Neste álbum reincide na rotura dos convencionalismos e dos estereótipos que os contos populares transmitiram de geração em geração, tal como fez em O traseiro do Rei, Que aguaceiro! ou Nariz de ouro.
Se os gatos usassem botas, governavam as Rãs é uma revisita ao conto popular europeu recompilado em 1697 por Charles Perrault no seu Contos da mamã ganso (Contes de ma mère l’Oye) e é, sobretudo, uma mistura de protagonistas de histórias clássicas infantis: os ratos e o flautista de Hamelin, bruxas, príncipes transformados em sapos, princesas dispostas a beijá-los (apesar do nojo) para quebrar infrutuosamente o feitiço.
“Esta não pretende ser uma história sobre o mundo, é uma história sobre as próprias histórias; porque as histórias têm as suas normas e é perigoso alterá-las”, adverte a autora.
Assim, apesar da irreverência destas múltiplas reinterpretações (O Flautista de Hamelin/ retirou-se para uma ilhota do Pacífico, depois de ganhar uma fortuna a atrair ricas herdeiras com a sua flauta), este álbum mantém intacta a paródia aguda da relação entre o povo e a aristocracia, que se arroga o poder de ditar as normas do gosto e da política.
Tal como em Sopa de Nada, Rashin Kheiriyeh capta perfeitamente o tom desenfadado e divertido da história. Assim, a ilustradora iraniana convence com a sua aposta colorida e representação original e arriscada das personagens dos contos clássicos.
A autora de Se os gatos usassem botas mandavam os sapos atreve-se a dar duas recomendações para abordarmos a leitura deste livro: “As histórias não são nenhuma brincadeira” e “qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência”. (Ou talvez não…)